Esses dias tenho refletido muito acerca da advocacia que escolhi fazer pra mim.
Dizem que a advocacia na área das famílias é quem escolhe os advogados. E realmente eu tenho meus motivos para ter sido escolhida por ela, especialmente depois que me conectei à psicanálise, que é uma profissão da escuta.
Esse escuta analítica compõe minha caixa de ferramentas da advocacia que eu faço, voltada para as famílias.
Encontrei o meu propósito dentro deste ramo da minha profissão exatamente quando me propus a não trabalhar e nem ser remunerada pelo litígio. Essa não é uma escolha natural pros advogados, que foram ensinados a processar tudo o que vissem de errado pela frente.
Advogados adoram bradar que a “advocacia não é profissão para covardes!”
Eu, sinceramente, estou a cada dia mais distante desse ambiente de luta, no sentido do litígio, de não me amedrontar pra juiz, etc e tal. Não me interessa nem mais ficar pensando sobre isso, ou me levar, enquanto profissional, pra esse lugar.
É que estou convencida que ele pertence a tantos outros colegas, que os ocupam com dignidade, maestria e talento. Sinto que não caibo mais nessa luta!
A minha parada tem sido servir como instrumento de paz, de escuta de famílias que chegam até mim me avistando como aquela que “sabe e vai resolver tudo”, aquela que é capaz de tirar do sufoco e amenizar as angústias. Que terá um ouvido atento e uma palavra direcionadora de uma caminho possível, de pacificação, de direcionamento para uma família funcional, na medida do possível de cada um, e como objetivo sempre maior, encontrarem respeito e amor.
Essa ideia de que serei a responsável por tudo isso, no início me trazia um peso enorme, uma responsabilidade gigantesca, no entanto, sabemos que é ilusória. Uma fantasia: o “suposto saber” não é bem assim, tão real como os clientes imaginam. O desenrolar do processo (e aqui processo com o sentido de percurso) vem da conexão, da confiança. Aí cliente e profissional somam-se e transformam o trabalho em único, e caminham juntos.
Esse será um trabalho bem sucedido.
E assim vem sendo a minha redescoberta na advocacia. Posso ser muito além do que aquela que sabe dizer quais são os seus direitos, quais leis se aplicam ao seu caso, qual jurisprudência é favorável a uma tese. Essa parte, existe, óbvio. Sou advogada, não deixei de ser, mas, sinceramente, tem ficado para um plano subsidiário.
Esse é o meu barato: descobri que a minha advocacia, portanto, é uma profissão de cura pela escuta empática, pelo direcionamento legal respeitoso. E que maravilhosa essa descoberta!
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